Você se considera ocidental? Para grande parte do mundo, o Brasil não
faz parte do Ocidente
Para os brasileiros, esta não é uma questão: nos consideramos
ocidentais. Na escola, na mídia, no dia a dia, falamos do Ocidente como o lugar
a que pertencemos: "aqui no Ocidente, a Ioga ainda é vista como
hobby", dizia artigo em um jornal. Mas, se tiver algum amigo europeu ou
norte-americano, faço o teste. Pergunte se o Brasil é um país ocidental. A
resposta revelará que a definição não é tão consensual. O Ocidente não somos
nós - ao menos para grande parte do mundo.
Isso porque falar uma língua de origem latina
e estar a oeste do meridiano de Greenwich não é suficiente para estar no
Ocidente. Enquanto Estados Unidos e Portugal são indiscutivelmente
“ocidentais”, a classificação de países como o Brasil e a Argentina não é
unânime. Mas, afinal, o que faz um país ocidental? Abaixo, a divisão geográfica
do planeta em dois hemisférios:
Um conceito mutável
A dicotomia (divisão)
Ocidente-Oriente remonta à época do império Romano e, desde os primórdios, já
guardava aspectos tanto geográficos quanto culturais.
No período
de queda do império, a divisão tomou caráter oficial com a instituição do
Império Romano do Ocidente, com capital em Roma, e o Império Romano do Oriente,
com sede em Constantinopla (atual Istambul):
Enquanto a
parte ocidental se desintegrou já no século 5, o império a Oriente se manteve
unificado até 1453, quando foi tomado pelos turcos islâmicos. A partir desse
momento, o conceito de Ocidente começa a aproximar da ideia de
“cristandade", em oposição ao islã que vinha do oriente.
“O Ocidente
sempre se definiu em oposição a algo, ora em relação aos povos islâmicos do
Oriente Médio, ora em relação aos povos asiáticos de maneira geral",
afirma o professor José Henrique Bortoluci, do Departamento de Fundamentos
Sociais e Jurídicos da FGV. "É um conceito que necessariamente abarca uma
exclusão do outro”.
Dos romanos
aos dias atuais, o conceito de ocidente ganhou diversas interpretações e
durante a Guerra Fria adquiriu também contornos políticos e econômicos.
“No período
da Guerra Fria, o conceito de Ocidente passa a ser associado a existência de
certas instituições, como democracia e capitalismo e, ainda que de maneira
difusa, também a valores judaico-cristãos.”
José Henrique Bortoluci, professor
da FGV
Dessa
maneira, explica Bortolucci, países como Austrália e Nova Zelândia seriam
indiscutivelmente parte do mundo ocidental, ainda que geograficamente estejam
mais próximos da Ásia.
.
Atividades
1. Qual é a origem histórica e
cultural da noção de Ocidente e Oriente?
2. Segundo a discussão do texto, o
Brasil pode ser considerado um país ocidental? Por quê?
3. De acordo com o texto o que, por
fim, significa “Ocidente”?
E o Brasil?
Não há consenso sobre qual a classificação para o Brasil. Se
não somos ocidentais, há diversas classificações possíveis: latino-americanos
ou mundo em desenvolvimento são opções.
Outras regiões neste 'limbo' classificatório são a África e a Rússia.
“A classificação da América Latina e do Brasil é
particularmente problemática”, segundo o professor. Se por um lado a
colonização europeia deixou marcas na língua e no modelo de organização dos
países latino-americanos, o subdesenvolvimento socioeconômico e as ditaduras
que marcaram a história da região excluiriam esses países do clube ocidental.
“Alguns estudiosos se referiam a América Latina como
'extremo ocidente’ para demarcar a diferença em relação aos países capitalistas
avançados” Termo
cunhado pelo diplomata e politólogo francês Alain Rouquié
Em outras palavras, na parte 'desenvolvida' do mundo, o
Ocidente é sinônimo de desenvolvimento, democracia e cultura de base europeia
-- uma definição vaga que não deixa de ter certa carga de preconceito. Para
Oliver Stuenkel, autor do livro O Mundo Pós-Ocidental, o debate acerca da
filiação do Brasil ao Ocidente gera poucos resultados concretos para as
políticas externas.
“O conceito de Ocidente é ambíguo e, na prática, traz mais
problemas que soluções”, afirma. Mesmo entre os formuladores da política
externa brasileira parece não existir consenso. “O Itamaraty evita o uso do
termo ‘Ocidente’ na sua linguagem diplomática oficial porque mesmo entre
diplomatas não há entendimento comum”, afirma o estudioso. Stuenkel, no entanto, vê vantagens nessa
ambiguidade do Brasil em relação ao ocidente. “Em um mundo multipolar, ter
legitimidade para dialogar com vários atores é estratégico. O Brasil é um dos
poucos países que consegue dialogar com as potências ocidentais ao mesmo tempo
que tem legitimidade para liderar os países não ocidentais”.
Disponível em:
https://tinyurl.com/rek32tf.Acesso 04 de set de 2020.
ATIVIDADES
4. As
expressões “velho mundo”, “novo mundo” e “novíssimo mundo” referem-se a uma
forma de distinção dos continentes que
a) ( )
obedece a fatores econômicos. b) ( )
corresponde a uma visão eurocêntrica. |
c) ( ) designa as mudanças no poderio das
lideranças mundiais. d) ( )
está relacionada aos processos de descolonização. |
5. As discussões sobre o povoamento do continente americano
estão relacionadas também com questões políticas. Um dos problemas de ordem
política e cultural que estariam relacionados com essas discussões é
a) (
) a tese da superioridade do
homem tropical, que se contrapõe à superioridade do homem africano.
b) ( ) a tese da impossibilidade da travessia do
Estreito de Bering.
c) ( ) a tese da falsidade das pinturas
arqueológicas da Serra da Capivara, no Piauí.
d) ( ) a tese do eurocentrismo, que, entre outras
coisas, advoga a expansão da humanidade pelo mundo a partir do continente
europeu.
6. A xenofobia não é necessariamente um problema
continental, mas territorial e que se estabelece através das distinções entre
os diferentes Estados e as diferentes nações. No entanto, há um continente no
planeta que se destaca dos demais por apresentar com maior frequência a prática
de manifestações xenofóbicas, que é
a) ( ) a
África |
b) ( ) a
Europa |
c) ( ) a
Ásia |
d)
( ) a América do Norte |
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